quarta-feira, 14 de junho de 2017

Teria mesmo o nome de Saulo mudado para Paulo?


É corrente no meio cristão evangélico a ideia de que, após sua conversão, Saulo teve seu nome mudado por Deus para Paulo. Mas será que, realmente, ocorreu essa alteração no nome daquele que se tornou um dos mais destacados apóstolos na pregação do Evangelho de Cristo? Vamos analisar o que a Bíblia nos apresenta.

A Bíblia traz alguns relatos de pessoas que tiveram o nome mudado por Deus em alguma ocasião, e isso é registrado de forma clara. Podemos citar, por exemplo, Abraão, que, antes, era chamado Abrão.
Em dado momento, Deus modifica o nome de Abrão para Abraão (Gn 17.5), que trazia um significado coerente com os planos que Deus tinha para ele e sua descendência. A sua esposa, Sarai, também teve o nome mudado para Sara (Gn 17.15).

A partir de então, a Bíblia sempre registra os seus nomes como Abraão e Sara.

Jacó também teve o seu nome mudado por Deus, passando a se chamar Israel (Gn 32.28), nome este pelo qual o povo do Altíssimo também foi chamado, visto se tratar da descendência de Jacó, ou seja, as 12 tribos se originaram de seus 12 filhos.

Note-se que o texto bíblico é explícito ao afirmar que essas pessoas tiveram seus nomes mudados por Deus, não deixando nenhuma margem a dúvidas.

Com relação a Saulo, qual é a passagem bíblica que informa a mudança de nome? Será que ela existe? Vejamos o que as Escrituras nos mostram sobre esse tema.

Saulo era um fariseu, homem de elevado conceito entre os judeus, dono de profundo conhecimento da Lei de Deus, e gozava de posição destacada como um dos líderes religiosos. Ele recebeu autorização dos principais líderes para que perseguisse os cristãos.


Ocorre que, no capítulo 9 do Livro de Atos dos Apóstolos, a história de Saulo sofreu uma guinada completa, pois ali é narrado o seu encontro com Jesus na estrada de Damasco, ocasião em que foi assim chamado por Jesus: “Saulo, Saulo” (Atos 9.4).

Na sequência da narrativa bíblica, Jesus ordena que Ananias compareça a determinada casa e procure por Saulo (o texto ainda traz o nome Saulo, conforme Atos 9.11).

Em cumprimento à ordem de Cristo, Ananias vai até o local designado e impõe as mãos sobre Saulo, que volta a enxergar. No texto ele continua sendo identificado como Saulo (Atos 9.17).

Assim que ele começou a pregar nas sinagogas, ensinando o Evangelho de Cristo, a Bíblia ainda o identificava como Saulo (Atos 9.22 e 25).

O capítulo 10 de Atos não faz referência a ele, mas no capítulo 11 seu nome volta a ser mencionado, e novamente como Saulo (Atos 11.25). É interessante notar que no versículo 26 vemos que ele e Barnabé permaneceram um ano em Antioquia, e quando partiram para lá já fazia algum tempo que Saulo havia passado pela conversão, mas seu nome continuava o mesmo. Veja-se que no versículo 30 o nome Saulo foi empregado para identificá-lo.

Em Atos 12.25 há nova menção a Saulo, ainda sem nenhuma mudança de nome.

Bem, a esta altura, já podemos concluir que a afirmação de que o seu nome foi mudado de Saulo para Paulo na conversão não encontra amparo na Bíblia, pois por muito tempo ele continuou a ser identificado como Saulo.

Prosseguindo, chegamos ao capítulo 13 de Atos. Logo no versículo 1 temos nova menção ao apóstolo, e qual foi o nome utilizado? Isso mesmo, Saulo! Ele foi citado dentre os profetas e mestres que havia na igreja de Antioquia.

Agora, observe-se a ordem que eles receberam do Espírito Santo no versículo 2:

“E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho chamado.” (Atos 13.2)

O Espírito Santo se refere a esse apóstolo como Saulo! Bem, se o seu nome tivesse sido mudado por ocasião da conversão, é claro que o Espírito Santo não utilizaria o nome velho, mas, sim, o novo!

Dando início à missão que lhes fora dada pelo Espírito Santo, Saulo e Barnabé chegaram à ilha de Pafos, e foram chamados pelo procônsul Sérgio Paulo, que pretendia ouvir o que eles pregavam. O texto bíblico novamente utiliza o nome Saulo, conforme se vê no versículo 7.

Mas agora finalmente chegamos ao texto chave para entendermos se de fato Deus mudou o nome de Saulo para Paulo: Atos 13.9, que assim nos diz:

“Todavia, Saulo, também chamado Paulo...” (Atos 13.9).

Não há mistério aqui: a Bíblia é muito clara ao dizer que Saulo TAMBÉM era chamado Paulo. O que isso significa?

Saulo tinha dupla cidadania. Ele era judeu, mas também era cidadão romano (Atos 16.37-38; 22.25-29). Saulo era seu nome judeu, e Paulo era o seu nome romano. Portanto, ele tinha dois nomes, e poderia ser chamado por qualquer deles. Mas enquanto estava entre os judeus, por questões lógicas ele utilizava o seu nome judeu. Ao ser enviado a pregar aos gentios, mostrou-se mais coerente e aproveitável usar o nome romano, até como uma forma de melhor aceitação entre os não judeus.

Portanto, o nome de Saulo continuou a ser Saulo até o fim de sua vida, da mesma forma que continuou a ser também Paulo, pois não houve mudança como muitos creem, entretanto, visto que seu ministério foi mais voltado aos gentios, a partir de Atos 13.9 e também em suas epístolas ele passou a se identificar apenas como Paulo, seu nome romano.


Paulo de Tarso nasceu judeu, “circuncidado no oitavo dia, da raça de Israel, da tribo de Benjamim, um hebreu parente dos hebreus, em observância da lei dos fariseus” (Filipenses 3,5)

O nome hebreu dado de seus pais a ele era Saulo, mas, como seu pai era um cidadão romano (e, no entanto, Saulo herdou a cidadania romana), Saulo também tinha o nome latino “Paulo” (Atos 16,37), o costume de dois nomes começou a se tornar comum nessa época.

Como ele nasceu em um ambiente fariseu rigoroso, o nome Saulo era o nome mais adequado para usar. Mas depois de sua conversão, Saulo decidiu mudar seu nome para anunciar o Evangelho aos gentios, então ele “limpou” o seu nome romano e se tornou conhecido como Paulo, nome que era conhecido entre os gentios.

Adotar um nome romano fazia parte do estilo missionário de Paulo. Seu método era se aproximar das pessoas e lhes transmitir o Evangelho numa linguagem e estilo nos quais elas poderia entender. Nós deveríamos copiar de Paulo o seu trabalho apologético. Não, nós não precisamos adotar outros nomes, mas nós deveríamos nos empenhar mais na anuncio para as pessoas. Nós deveríamos anunciar para as pessoas no estilo delas, o máximo que pudermos, e querer as ajudar a resolverem seus problemas. Nós não devemos levantar polemicas sobre as pessoas sem antes as terem conhecido.

Como Paulo explicou:

“Embora eu seja livre em relação a todos, tornei-me o servo de todos, a fim de ganhar o maior número possível. Com os judeus, comportei-me como judeu, a fim de ganhar os judeus; com os que estão sujeitos à Lei, comportei-me como se estivesse sujeito à Lei – embora eu não esteja sujeito à Lei -, a fim de ganhar aqueles que estão sujeitos à Lei.  Com aqueles que vivem sem a Lei, comportei-me como se vivesse sem a Lei, – embora eu não viva sem a lei de Deus, pois estou sob a lei de Cristo -, para ganhar aqueles que vivem sem a Lei. Com os fracos, tornei-me fraco, a fim de ganhar os fracos. Tornei-me tudo para todos, a fim de salvar alguns a qualquer custo. Faço tudo isto por causa do Evangelho, para me tornar participante dele”. (1 Coríntios 9,19-23)

Para concluir, esclareço que era comum pessoas serem conhecidas por dois nomes naquele tempo. É o caso, por exemplo, de Silas, que também era chamado Silvano. Ele era judeu, mas tinha cidadania romana assim como Paulo (Atos 16.19 e 37-38). Silas seria a forma grega de seu nome, e Silvano, conforme estudiosos, seria a forma latinizada desse mesmo nome, sendo citado em algumas cartas de Paulo (2Cor 1.19; 1Tes 1.1 e 2Tes 1.1).

Mas, não importa qual era o nome desses servos de Deus, se Saulo ou Paulo, Silas ou Silvano, pois o que deve ocupar nossa mente é o exemplo que eles deixaram, tendo se dedicado ao Senhor Jesus com amor e abnegação, expondo a própria vida para que muitos conhecessem o Evangelho de Cristo.

Que esses homens e outros mais que constam na Bíblia nos sirvam como motivação para não desanimarmos diante das pressões e adversidades, mas prosseguirmos confiando em Deus, sendo fiéis e não nos conformando ao presente mundo, seguindo o grande exemplo do Mestre Jesus.

Graça e paz abençoados!!!
Anjos ministrando a seu favor
Aba Pai
Pedro Cordeiro, Servo, Apóstolo, Pastor e Ministro da Nova Aliança